terça-feira, 19 de agosto de 2014

Sobre nossos filhos e sobre o "trabalhador-artista"



Dentro do guarda-chuva de reflexões que circunda o conceito de “trabalhador-artista”, uma questão sobre a qual temos nos debruçado (mais pela necessidade que pela livre vontade) é a de como lidar com a criançada, nossos filhos recém-chegados. A primeira leva de filhos vêm com Didi e Yago, já crescidos e, sem dúvida, os originais filhos de dolores. Educados ali, crescidos e tornados integrantes criativos do coletivo.

Um pouco mais adiante, mais de uma década depois, temos essa grande prole, cerca de 10 crianças, todas nascidas no período de 4-5 anos. Dentro da necessidade de lidar (e de “bem lidar”) com isso incluem-se vários fatores: primeiro, para muitos de nós não é questão de escolha levar ou não os filhos aos ensaios e dia-a-dia do Dolores. É única possibilidade. Segundo, as “gravidezes” e ausências de início de maternidade (de direito, merecidas e que devem ser tranquilas e na medida da vontade) intervêm nos processos de forma determinante. Terceiro, para possibilitar que quem exerce a maternidade e paternidade possa também criar e refletir sobre nosso mundo artisticamente. Entre tantos outros fatores...

Enfim, como lidar? Como oferecer condições para pais e mães criarem? Ao mesmo tempo, como construir espaço e tempo criativo para as crianças estarem e crescerem da maneira como acreditamos ser bom para elas? Aí então explico por que isso se insere no bojo da discussão do “trabalhador-artista”: a ideia dessa pessoa que não tem dupla função, que é um, permeado em suas duas dimensões, e que, afora as imensas dificuldades, permite e busca a intromissão no artista do mundo do trabalho e do trabalho pelo olho do artista. Que situação mais inevitável e objetivamente posta do que a de ter filhos, e do tempo deles imperarem independente da nossa vontade. Eles simplesmente estão. E isso nos chama, mesmo nos momentos de criação, sempre para a “vida” que em algumas concepções teatrais deve ser deixada do lado de fora da sala de ensaio, junto com o chapéu ou os calçados. Eles não nos deixam afundar na dimensão do artista, desta aura de genialidade e criação quase divina. Aí talvez consigamos transformar essa dificuldade, essa contingência em potência. Mesmo assumindo que isso ainda tem seus vais-e-vens. Avança e retrocede no nosso trabalho...

Neste processo de criação da Trilogia da Necessidade, nasceram João, Lucy, Raoni, Eliseu e Cecília. Neste processo, mães fizeram cenas com criança no peito, diretores dirigiram botando guri pra dormir, o ensaio parou para acalentar, aquecemos em teatro-mutirão dialogando com um pequeno que começa a engatinhar, alguém aguentou os choros enquanto outro alguém tinha de entrar em cena, nenês experimentaram o leite de diferentes peitos, etc. Todos, sem exceção, honraram a frase “quem não dança, segura a criança”.

Ir aprendendo a medida de quanto eles devem participar dos espaços dos adultos, ouvir as conversas, compreender os momentos de silêncio e concentração, ir se familiarizando com o espaço e funcionamento do coletivo e, ao mesmo tempo, da gente entender o quanto eles precisam de outro tipo de ambiente, de brincar tão corporalmente como fazem, de falar alto, de brigar e resolver, de “causar como causam”.

Temos refletido, especialmente nesse nosso último Waguininho, sobre isso. Nós, naquele momento em 16 adultos e 7 crianças, conversando sobre o aparente caos infantil e, ao mesmo tempo, contentes com poder existir, se organizar e criar dessa forma. Essa permeabilidade (e desculpe a insistência nesta palavra) da vida, da militância no nosso trabalho, no processo criativo desse coletivo. Isso nos provoca muitos atrasos, desorganizações, rupturas no trabalho, ensaios diminuídos, mas estando tão inevitavelmente intrincado e presente na vida, nos possibilita uma criação muito potente. Não se trata de reflexão teórica sobre “O Trabalhador”, já está na carne, nas horas do dia, e vaza na criação, aparece menos estanque, menos conceitual, e quiçá mais profundo e crítico.

MST

Não podemos deixar de colocar a experiência do MST e a nossa vivência na Escola Nacional Florestan Fernandes da qual nos apropriamos do debate já bastante desdobrado para pautar nossa organização. A ciranda infantil que busca uma pedagogia que coincida com os anseios do movimento, da busca pelo socialismo; a discussão sobre a educação que precisamos para a luta que devemos travar, para o mundo que iremos construir; e a ciranda como possibilidade de pais e mães estudarem e participarem das ações, entre tantas outras reflexões que vale a pena conhecer. Nos reconhecemos na mesma busca de trazer e familiarizar as crianças para a luta, e de cuidar e acolhe-las nas suas necessidades.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Boletim Dolores - Agosto de 2014




Informativo Mensal

Coletivo Dolores Boca Aberta

Nº 10 - Agosto de 2014

 

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“Eu não sou trabalhador-artista por desempenhar duas funções na vida social,

mas por uma opção política do modo de produzir o meu teatro.

Não é a falta de opção material, essa que nos obriga a desempenhar

mais do que uma função-profissão na sociedade que nos determina como

trabalhadores-artistas, mas é o caráter militante e transformador

da minha atuação no mundo que é estética e é política.”
Reflexão doloriana em pleno Waguininho

Aconteceu em julho...

16/07 - Aconteceu a intervenção cênica com a Cia Teatro Documentário. 19/07 - A festa julina do CDC Vento Leste foi um sucesso. Comida, quadrilha e muitas apresentações culturais. 25, 26 e 27/07 - Fizemos o Waguininho, nossa imersão de reflexão de fim de projeto de Fomento.

e acontece em agosto.

15 e 16/08 - O Dolores viaja para o Rio de Janeiro e faz apresentações em Manguinhos e no Complexo do Alemão. Saiba mais... 24/08 - Nesse domingo acontece a deliciosa Roda de Jongo na Comuna Dolores Guaianazes. Seguimos na produção de editais e na busca constante de viabilizar a continuidade de nossa luta!
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Acesse o blog do CDC Vento Leste:

http://cdcventoleste.blogspot.com.br/
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Para mais informações sobre alguma atividade ou notícia desse informativo, acesse nosso blog,

nossa página no facebook ou mande um e-mail para gente: doloresbocaaberta@gmail.com
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CDC Vento Leste – Rua Frederico Brotero, 60 – Cidade Patriarca
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Jongo na Comuna Dolores Guaianazes em agosto


Alimentando parcerias cariocas

Neste final de semana, nos dias 15 e 16 de agosto, o Coletivo Dolores fez sua longa jornada em direção ao Rio de Janeiro para cumprir uma agenda com parceiros importantes.

Na 6ª feira, o Coletivo fez uma apresentação seguida de um bate-papo com os alunos da Educação de Jovens e Adultos e com outros educandos da FioCruz a partir de um contato feito com a Profª Marcela Pronko, "parceira de outros carnavais contra-hegemônicos";


No sábado, no Complexo do Alemão, participamos dos Cultivos Culturais na Monstra 10 anos Teatro da Laje, também parceiros de outras datas.

Veja o vídeo do resumo de nossa passagem e da entrega das três esculturas que selaram nossos bons encontros.



Foi um prazer alçar novos vôos (mesmo que a custo de muita rua, estrada e ruela dentro de um busão) e conversar com tanta gente em movimento e na busca de construir coerência e trajetória conjunta!

Tamujuntu!